OKEANOS e FCUL em parceria para monitorizar biodiversidade e alterações dos ecossistemas marinhos
O OKEANOS – Instituto de Investigação em Ciências do Mar, da Universidade dos Açores e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) vão participar no projeto internacional SEAGHOSTS, que visa a monitorização e conservação das populações das aves marinhas mais pequenas do planeta, os painhos. O projeto foca-se em 6 espécies que nidificam no Atlântico Norte, cuja ecologia e até a taxonomia são muito pouco conhecidas, uma vez que são muito difíceis de estudar (são exclusivamente noturnas em terra, não pesam mais que 50g e nidificam em pequenas cavidades em rochas ou solo).
O projeto foi um dos 33 (entre 262) projetos selecionados no âmbito da iniciativa BiodivMon do programa Biodiversa+, sendo os parceiros Portugueses financiados pela FCT. Este projeto envolve dezasseis parceiros de onze países europeus, e ainda Cabo Verde, Estados Unidos e Canadá.
O principal objetivo do SEAGHOSTS é desenvolver um esforço coordenado para compreender o ciclo anual das diferentes espécies, as áreas oceânicas utilizadas durante a reprodução durante a migração, e quantificar as ameaças que afetam a sua conservação à escala europeia.
Verónica Neves, investigadora do Instituto OKEANOS afirma que “esta será uma ótima oportunidade para aprofundar o nosso conhecimento sobre a ecologia espacial global dos painhos (famílias Hydrobatidae e Oceanitidae), e contribuir para a preservação destas pequenas aves”, acrescentando que estes animais são fantásticas sentinelas do ecossistema marinho, “são altamente pelágicos, percorrem grandes distâncias no mar, têm uma vida muito longa e são extremamente sensíveis às ameaças antropogénicas em geral. São, pois, objetos de estudo ideais!”.
Serão incluídas seis espécies de painho, incluindo duas espécies endémicas, o Pedreirinho (Hydrobates jabejabe), endémico de Cabo Verde e o Painho-de-Monteiro (Hydrobates monteiroi), endémico dos Açores.
José Pedro Granadeiro, investigador da FCUL, reforça que “através deste trabalho, teremos a oportunidade de mapear a sensibilidade a ameaças antropogénicas no mar, e ajudar a identificar as áreas marinhas mais importantes para a conservação dos painhos que habitam os nossos mares.”
Os investigadores explicam ainda que o projeto visa colmatar lacunas no conhecimento sobre a biodiversidade marinha, combinando dados de monitorização disponíveis com novos dados que serão adquiridos durante o projeto em toda a Europa.
A pegada humana está distribuída de forma desigual pelos oceanos e pelas diferentes fronteiras políticas, mas o seu impacto no meio marinho tem sido pouco estudado.
Esta falta de conhecimento, por exemplo, dificulta frequentemente o desempenho da UE nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS). Embora a sociedade europeia seja particularmente sensível aos processos de transição ecológica para atenuar as alterações globais, o grande investimento em tecnologias de baixo carbono e a rápida transição para fontes de energia renováveis (por exemplo, parques eólicos e solares offshore) também podem ter impactos muito prejudiciais nos ambientes marinhos.
O conhecimento das rotas migratórias de várias espécies de painhos permitirá a identificação de ameaças e de zonas prioritárias para a conservação das espécies.